Os anúncios de escravos em jornais locais são fontes com um significativo caráter antropológico e psicológico para os estudos da escravidão negra. Já que possibilita identificar não apenas as diversas origens dos povos africanos, bem como as expressões linguísticas que fazem parte do nosso vocabulário e cultura nos dias de hoje: jeito de falar, gestos, hábitos, caráter (julgado aos olhos dos senhores da elite branca escravocrata), formas dos corpos (altura, mãos, pés, cabeça, cabelo, dentes, cicatrizes). Assim como doenças, deficiências ou marcas geradas pelos maus tratos e castigos executados por esses próprios senhores, que não hesitavam em descrever em detalhes.  

Recheados de descrições físicas ou psicológicas esse documento permite conhecer as violências que marcavam o corpo negro, assim como as perspectivas pejorativas, sexualizadas ou infantilizadas que rotulavam homens e mulheres. Alguns inclusive, perduram até os dias de hoje em nossas expressões racistas.

Termos como mulata, mucama, moleque, peça, rapariga de casa de família (quando preta e escrava) e senhora (quando parda e livre). Essas fontes nos permitem aproximar do sujeito escravizador e do escravizado, através das estratégias de fugas, dos castigos sofridos ou das habilidades e profissões que tinham, inclusive dos crimes pelos quais foram acusados. Apesar da desumanidade da escravização nos aproximamos do que ainda restava de elemento humano: nome, rosto, corpo, habilidades e atitudes que o humanizam e materializam.