Sueli Carneiro
Filósofa, escritora e ativista antirracismo do movimento social negro brasileiro, Aparecida Sueli Carneiro Jacoel nasceu em São Paulo, em 1950. É Doutora em Filosofia pela USP e fundadora do GELEDÉS – Instituto da Mulher Negra, sendo considerada uma das mais relevantes pensadoras do feminismo negro no Brasil.
Sueli Carneiro é uma das principais referências da discussão do feminismo negro no Brasil e das cotas raciais nas universidades brasileiras, tendo mais de 150 artigos publicados em jornais, revistas e em 17 livros com relação aos temas, a autora é apontada como porta voz de uma geração.
Em 1983, durante o longo processo de redemocratização do país, o governo do Estado de São Paulo criou o Conselho Estadual da Condição Feminina, porém sem nenhuma negra dentre as trinta e duas componentes. Sueli Carneiro foi uma das lideranças do movimento que se engajou na campanha da radialista Marta Arruda pela abertura de espaço no Conselho para este segmento, campanha que logrou êxito.
Em 1988, a autora fundou o GELEDÉS – Instituto da Mulher Negra, primeira organização negra e feminista independente de São Paulo. Meses depois, foi convidada para integrar o Conselho Nacional da Condição Feminina, em Brasília. Criou o único programa brasileiro de orientação na área de saúde específico para mulheres negras. Semanalmente mais de trinta integrantes do chamado “segundo sexo” são atendidas por psicólogos e assistentes sociais e participam de palestras sobre sexualidade, contracepção, saúde física e mental na sede do Instituto.
Em 2009, Sueli Carneiro produziu o estudo “Mulheres negras e poder: um ensaio sobre a ausência”, como forma de denúncia da hegemonia masculina e branca nas diferentes esferas de poder. A autora não tratava apenas da ausência pela baixa representação, falava sobre aquelas mulheres negras que, mesmo presentes na institucionalidade, foram prejudicadas por questões advindas das discriminações de raça e de gênero. A ex-ministra da SEPPIR, Matilde Ribeiro, e a atual deputada federal Benedita da Silva estavam entre elas.
Sueli Carneiro se vale do conceito de “epistemicídio”, cunhado pelo sociólogo Boaventura de Souza Santos (1940-), para abordar a tentativa de apagamento dos saberes dos povos colonizados, com ênfase nas mulheres negras, por serem parte do segmento mais oprimido desses povos. No campo dos estudos de gênero, sua produção dialoga com intelectuais e feministas negras brasileiras como Beatriz Nascimento (1942-1995), Luiza Bairros (1953-2016) e Lélia Gonzalez (1935-1994).
A autora tem sido agraciada com uma série de prêmios e homenagens: Prêmio Bertha Lutz (2003); Menção Honrosa no Prémio de direitos humanos Franz de Castro Holzwarth; Prêmio Direitos Humanos da República Francesa; Prêmio Benedito Galvão (2014); Prêmio Itaú Cultural 30 Anos (2017); Prêmio Especial Vladimir Herzog (2020);
Em 2018, a filósofa e ativista Djamila Ribeiro (1980- ), cria o selo editorial Sueli Carneiro, inaugurado com uma coletânea em sua homenagem, em reconhecimento à importância de suas ideias e atuação.
PUBLICAÇÕES
A mulher negra brasileira na década da mulher. São Paulo: Nobel, 1985.
Mulheres que fazem São Paulo: a força feminina na construção metrópole. São Paulo: Celebris, 2004.
A construção do outro como não-ser como fundamento do ser. Tese (Doutorado em Filosofia). Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005.
A cor do preconceito. São Paulo: Ática, 2006.
Racismo, Sexismo e Desigualdade no Brasil. São Paulo: Selo Negro, 2011.
Escritos de uma vida. São Paulo: Editora Letramento, 2018.
COAUTORIA
Mulher negra: Política governamental e a mulher, com Thereza Santos e Albertina de Oliveira Costa. São Paulo: 1985.
A filósofa Sueli Carneiro tece apontamentos sobre a experiência de mulheres negras na sociedade brasileira, respaldando-se em fatos históricos.
Ser mulher negra no Brasil – Ocupação Sueli Carneiro (2021)
“Um dos propósitos do afrofile® é manter vivo e amplificar o conhecimento da história afro-brasileira para todos.”
— Afrofile
Imagem: André Seiti/Itaú Cultural